“(Os) Nós e os Laços: Percursos Vinculativos”
As XIX Jornadas Científicas do Departamento de Ciências Sociais e do Comportamento do Instituto Universitário de Ciências da Saúde decorrerão, nos dias 24 e 25 de maio de 2018, no Centro de Congressos da Alfândega do Porto.
A XIX edição das Jornadas de Psicologia do IUCS pretende ser, como tem vindo a ser habitual, um espaço de debate e reflexão entre alunos, profissionais, clínicos e investigadores de diferentes áreas sobre a investigação e a prática, criando-se a oportunidade de atualização técnico-científica, partilha de experiências e troca de ideias. Simultaneamente, visa ser um momento de envolvimento ativo dos alunos (representados pelo Núcleo de Psicologia da Associação de Estudantes do IUCS), em estreita articulação com o corpo docente do Departamento de Ciências Sociais e do Comportamento, na organização de um evento científico de elevada qualidade.
Para as Jornadas deste ano foi selecionado o tema da vinculação ao longo do ciclo vital, contemplando a sua abordagem neurobiológica, passando pelos percursos (in)adaptativos ao longo da infância, adolescência, adultez e velhice e desembocando na intervenção psicológica tendo por base os modelos vinculativos. Estas temáticas serão abordadas por prestigiados investigadores e clínicos nacionais que se têm vindo a dedicar à investigação, avaliação, e intervenção dos e nos processos vinculativos.
Gostaríamos de sobressair dois momentos potencialmente interessantes: (a) a Mesa 2 – Comunicações Livres (24 de maio, entre as 17,00 e as 18,00h), no decorrer da qual haverá a oportunidade de apresentar e/ou assistir à apresentação de comunicações orais ou posters por investigadores-juniores e, (b) o Workshop (24 de maio, entre as 18,00 e as 19,00h) subordinado ao tema “Da cognição à emoção: o neurofeedback ao serviço da hiperatividade e défice de atenção”.
Porque a sua presença é importante para o enriquecimento desta iniciativa, não podemos deixar de contar consigo, pelo que esperamos vê-lo(a) em maio, no Centro de Congressos da Alfândega do Porto.
Em nome da Comissão Organizadora,
Maria Emília Areias, Susana Ferreira, Alexandra Serra, José Carlos Caldas e José Carlos Rocha
14.30h Conferência Inaugural - “Vinculação em contextos de privação de cuidados parentais: Investigação, intervenção e contributos para as políticas sociais.”
Isabel Soares, UM
Moderador: Maria Emília Areias, IUCS
15.30h- 16.30h Mesa 1 - Neurobiologia dos Processos Vinculativos
Moderador: Bruno Peixoto, IUCS
“Prematuridade, qualidade da interação mãe-bebé e funcionamento neuroendócrino.”
Joana Baptista, UM
“Neurociências do desenvolvimento infantil.”
Adriana Sampaio, UM
16.30h - 17.00h Pausa para café
17.00h- 18.00h Mesa 2 - Comunicações Livres
Moderador: Alexandra Serra, IUCS
18.00h- 19.00h Workshop *
Moderador: Luís Monteiro, IUCS
“Da cognição à emoção: o neurofeedback ao serviço da hiperatividade e défices de atenção”
Hugo Sousa, Neurobios
09.30h- 10.30h Mesa 3 - Percursos Vinculativos (In) Adaptativos na Infância
Moderador: José Carlos Rocha, IUCS
“Implicações das Redes de Vinculação para o Desenvolvimento Social na Infância.”
Manuela Veríssimo, ISPA
“A auto-regulação do bebé e a vinculação com a mãe”
Marina Fuertes, ESE, Lisboa
10.30h - 11.00h Pausa para café
11.00h- 12.30h Mesa 4 - Percursos Vinculativos (In) adaptativos na Adolescência
Moderador: Susana Lêdo, IUCS
“Construir relações seguras nos dias de hoje: Novos problemas, soluções antigas?”
Paula Mena Matos, UP
“Abuso sexual e vinculação: uma perspetiva intergeracional”
Catarina Ribeiro, UCP
Diana Ribeiro da Silva, UC
12.30h - 14.00h Pausa para Almoço
14.00h- 15.00h Mesa 5 - Percursos Vinculativos (In) adaptativos na Adultez
Moderador: Vera Almeida, IUCS
“Eu, Tu e Nós em relação”
Vânia Sousa Lima, UCP
Ana Conde, UPT
Helena Moreira, UC
15.00h – 15h30h Apresentação de Posters
15.30h- 16.30h Mesa 6 - Percursos Vinculativos (In) adaptativos na Velhice
Moderador: Manuela Leite, IUCS
“From the cradle to the grave: O lugar da vinculação no envelhecimento.”
Carla Faria, ESE, Viana do Castelo
“Vinculação, representação mental dos cuidados e ansiedade filial em filhos de meia-idade.”
Diana Morais, ESE, Viana do Castelo
16.30h - 17.00h Pausa para café
17.00h- 18.00h Mesa 7 - Abordagens interventivas tendo por base processos vinculativos
Moderador: Joana Soares, IUCS “
"Aliança terapêutica como co-construção de um processo vinculativo.”
Eugénia Ribeiro, UM
“Modelo Touchpoints – construindo “o nós”, fortalecendo os laços.”
Ana Teresa Brito, Fundação Brazelton/Gomes Pedro
“Intervenção Parental na Infância baseada na Teoria da Vinculação.”
Mariana Negrão, UCP
18.00h - Sessão de Encerramento
Maria Emília Areias/Diretora do Departamento de Ciências Sociais e do Comportamento do IUCS
Susana Ferreira/Presidente do Núcleo de Psicologia do IUCS
Vinculação em contextos de privação de cuidados parentais: Investigação, intervenção e contributos para as políticas sociais
Isabel Soares
Resumo
Com base na investigação realizada pelo Grupo de Estudos de Vinculação serão apresentados e discutidos resultados sobre os efeitos da institucionalização e das experiências familiares precoces no desenvolvimento das crianças dos 0-6 anos, com um foco particular nas perturbações de vinculação. Em seguida, serão analisadas questões relativas à promoção da parentalidade sensível e, em particular, através do programa "Videofeedback Intervention to Promote Positive Parenting em Sensitive Discipline" com mães e crianças em contextos de risco psicossocial. Por último, serão abordados contributos do conhecimento científico para as políticas sociais na área da promoção dos direitos e proteção das crianças em situação de risco e exclusão social.
Prematuridade, qualidade da interação mãe-bebé e funcionamento neuroendócrino
Joana Baptista
Resumo
A presente comunicação visa contribuir para o conhecimento acerca do papel da responsividade sensível materna na regulação dos sistemas de resposta ao stress da criança, nomeadamente do eixo HPA, e das suas relações com o desenvolvimento socioemocional e comportamental na prematuridade. Integrada no âmbito de uma investigação mais vasta sobre os preditores da cognição social e da autorregulação em crianças nascidas prematuras, esta comunicação centrar-se-á nos resultados de um estudo exploratório, levado a cabo com crianças nascidas prematuras (i.e., < 37 semanas de gestação), e seus respetivos pais, avaliados em dois momentos no tempo: aos 12 e 24 meses de idade corrigida (Tempo 1 - T1 e Tempo 2 - T2, respetivamente). Em T1,
procedeu-se à avaliação do retraimento social do bebé, da responsividade sensível materna, e da concentração de cortisol no decorrer de uma interação desafiante com a mãe. Em T2, foi avaliado o funcionamento emocional e comportamental da criança. Riscos neonatais e psicossociais-familiares foram igualmente recolhidos. A relevância dos fatores ambientais para o ajustamento socioemocional e comportamental na prematuridade, e a sua relação com fatores neuroendócrinos, serão alvo de reflexão. Implicações para a prática clínica serão apresentadas.
O impacto da qualidade da interação cuidador-criança no processamento neural de faces com distintas valências emocionais em crianças institucionalizadas
Ana Mesquita
Resumo
Em Portugal, a institucionalização de crianças em risco continua a ser uma das medidas de proteção mais utilizada. Isto ocorre apesar do impacto bem documentado que esta experiência tem no desenvolvimento geral das crianças e, particularmente, na função cerebral. De notar, é também a heterogeneidade de respostas das crianças ao contexto institucional, que se demonstrou estar associado à qualidade da interacção cuidadorcriança. No entanto, são ainda escassos os estudos que avaliaram a relação entre a atividade neural de crianças institucionalizadas e a qualidade dos cuidados relacionais com o cuidador.
Neste estudo avaliamos a atividade neural de 68 crianças institucionalizadas (34% meninas; média de idade = 56,97 meses; DP = 11,21; 60% foram institucionalizadas por mais de 12 meses) usando um paradigma de Potenciais Evocados. Os estímulos eram faces da cuidadora institucional da criança, com diferentes valências emocionais (feliz, neutra e zangada). A responsividade da cuidadora foi avaliada com base nas escalas de sensibilidade e cooperação de Ainsworth, numa interacção cuidadoracriança de 15 minutos.
Os resultados mostraram um efeito de interação entre a expressão emocional das faces e a responsividade da cuidadora (F (2,130) = 3,109; p = 0,048). Especificamente, as crianças cuidadas por cuidadoras menos responsivas apresentaram maior latência de P1 após a visualização de faces zangadas do que crianças cuidadas por cuidadoras mais responsivos (p = 0,047).
Estes resultados serão discutidos à luz da relevância da qualidade dos cuidados relacionais no desenvolvimento do processamento neural de faces.
Neurociências do desenvolvimento infantil
Adriana Sampaio
Resumo
Nesta apresentação serão apresentados os correlatos neurais da saúde mental infantil e suas associações com o desenvolvimento social e emocional. Estes correlatos são organizados em termos da definição de saúde mental infantil fornecidas por Zero to Three (2001), centradas nas capacidades dos bebés em relação à expressão de emoções, relações interpessoais e aprendizagem. Concluímos com implicações destes achados em termos de possíveis intervenções de forma a maximizar desenvolvimento social e emocional saudável das crianças.
Workshop - Da cognição à emoção: o neurofeedback ao serviço da hiperatividade e défices de atenção
Hugo Sousa
Resumo
Nos últimos anos temos assistido a um aumento exponencial no número de diagnósticos de quadros de hiperatividade e défices de atenção na criança. Esta tendência tem ocorrido
um pouco por todo o mundo, tendo Portugal acompanhado esta tendência.
Contudo, o diagnóstico e tratamento deste tipo de problema, continua a ser alvo de debate pelas comunidades científicas e ligadas à saúde, nomeadamente na Psicologia, onde existe dificuldade em determinar com acuidade os verdadeiros e os falsos casos de hiperatividade e défice de atenção. Estas dificuldades são explicadas pela discrepância de um grande número de variáveis, sejam elas sociais, familiares, emocionais, cognitivas ou comportamentais.
O objetivo deste workshop será discutir novas formas de diagnostico deste problema à luz das neurociências e da neuropsicofisiologia, assim como discutir novas formas de tratamento, como é caso do Neurofeedback.
Implicações das redes de vinculação para o desenvolvimento social na infância
Manuela Veríssimo
Resumo
A ideia de que as relações de vinculação construídas durante os primeiros anos de vida servem como guiões ou modelos para as relações futuras da criança, nomeadamente, com o seu grupo de pares e que, a segurança nas relações de vinculação promove uma adaptação social positiva ao grupo de pares, tem uma longa tradição teórica e empírica na psicologia do desenvolvimento (e.g., Bost, Vaughn, Washington, Cielinski, & Bradbard, 1998; Bowlby, 1973, 1982; Lieberman, 1977; Park & Waters, 1989; Rose-Krasnor, Rubin, Booth, & Coplan, 1996; Waters & Sroufe, 1983). No entanto, a maioria dos estudos sobre a “vinculação e o relacionamento com pares” deu predominantemente enfoque à relação mãe-criança, sendo a relação pai-criança raramente considerada. Nesta comunicação vamos apresentar alguns estudos levados a cabo pela nossa equipa analisando a relação entre a qualidade da vinculação a ambos os pais (quer ao pai, quer à mãe) e algumas dimensões do desenvolvimento social (tais como, auto-estima, aceitação social no grupo de pares, número de amigos recíprocos) num grupo de crianças em idade pré-escolar.
A auto-regulação do bebé e a vinculação com a mãe
Marina Fuertes
Resumo
Logo após o nascimento, os bebés apresentam comportamentos instintivos de autorregulação. Por exemplo, o recém-nascido é capaz de controlar as suas respostas motoras e vegetativas isolando-se de estímulos perturbadores. Nas interações é um parceiro ativo organizando o seu comportamento de modo a sincronizar-se com os outros em trocas interativas reciprocas. Estes comportamentos de autorregulação evoluem ao longo do primeiro ano de vida. Aos 3 e aos 9 meses, estes comportamentos parecem organizar-se em estilos comportamentais e serem preditivos da qualidade da vinculação
mãe-filho(a). Estes estilos são estáveis dos 3 para os 9 meses e dependem de fatores sociodemográficos, familiares e interativos. Nos bebés prematuros é frequente o estilo de autorregulação organizado a partir de respostas auto-conforto e nos bebés prematuríssimos um padrão mais inconsolável. Estes padrões parecem contribuir para a organização da vinculação e trazem elementos importantes para a prevenção da vinculação de risco.
Palavras Chave: Autoregulação Infantil; Vinculação; Modelo Touchpoints
Construir relações seguras nos dias de hoje: Novos problemas, soluções antigas?
Paula Mena Matos
Resumo
Pretende-se fazer uma reflexão sobre a construção da segurança de adolescentes e jovens, tendo por quadro de fundo algumas das principais transformações societais e culturais atuais. Destaca-se as noções de incerteza e imprevisibilidade na construção das trajetórias pessoais, o papel das novas tecnologias de comunicação, a diluição das fronteiras entre o espaço público e o privado, entre outros aspetos. Discute-se o modo como estas
transformações interferem nas formas de construir as relações entre pais e filhos e nas formas de relacionamento entre pares, articulando com as principais asserções da teoria da vinculação e com os resultados de estudos empíricos no domínio.
Abuso sexual e vinculação: uma perspetiva intergeracional
Catarina Ribeiro
Resumo
O abuso sexual de crianças é reconhecido como um acontecimento de elevada adversidade, constituindo um fator de risco para o desenvolvimento de diversas alterações do ponto de vista psicológico e na construção de relações significativas. Pretende-se nesta apresentação refletir sobre o impacto do abuso sexual nos processos de vinculação na infância e ao longo da vida, numa perspetiva de potencial impacto intergeracional.
Percursos vinculativos in(adaptativos) dos jovens delinquentes e desenvolvimento de traços psicopáticos
Diana Ribeiro da Silva
Resumo
Introdução
A psicopatia, marcada por traços de grandiosidade-manipulação, frieza-insensibilidade emocional e impulsividade irresponsabilidade, está historicamente associada a uma baixa responsividade emocional. No entanto, as abordagens evolucionárias defendem que esses traços podem representar uma estratégia adaptativa para lidar com cenários desenvolvimentais hostis, externalizando a experiência de emoções negativas.
Objetivos
Testar o poder preditivo de um modelo evolucionário que engloba: a) o valor preditivo das experiências precoces no endosso de traços psicopáticos; b) o papel mediador da vergonha e do coping com a vergonha nessa mesma relação.
Método
Uma amostra de jovens delinquentes do sexo masculino (n= 300, com idades compreendidas entre os 12 e os 20 anos de idade) responderam a um conjunto de questionários de autorrelato. Os procedimentos do modelo de equações estruturais foram aplicados para testar o modelo evolucionário acima referido.
Resultados
Os resultados sugerem que as experiências precoces, direta e indiretamente (através do papel mediador da vergonha e o coping com a vergonha) predizem, parcialmente, o endosso de traços psicopáticos em jovens delinquentes.
Conclusão
Os resultados suportam a hipótese que os traços psicopáticos podem representar uma estratégia adaptativa de externalização de emoções negativas em cenários desenvolvimentais hostis. Estes dados sustentam o desenvolvimento de programa de intervenção específicos para a psicopatia, nomeadamente programas centrados na vergonha.
Ajustamento psicológico dos indivíduos perante eventos stressores normativos e não normativos: o papel da vinculação
Ana Conde
Resumo
A vinculação assume-se como um processo determinante para o desenvolvimento socioemocional dos indivíduos ao longo de todo o ciclo vital, tendo um reconhecido impacto no ajustamento psicológico dos indivíduos perante a ocorrência de eventos stressores, sejam eles normativos ou não. Várias são as evidências empíricas demonstrativas deste impacto, nomeadamente nos dois estudos que serão apresentados recorrendo a amostras distintas.
O estudo 1 procurou analisar os efeitos individuais e de casal do estilo de vinculação e do suporte conjugal na ocorrência de sintomatologia ansiosa e depressiva, em mães e pais (63 casais), no período pré (2º trimestre) e pós-natal (3 meses). Os resultados obtidos demonstram que um estilo inseguro de vinculação se associa a níveis mais elevados de sintomatologia ansiosa e depressiva em ambos os elementos do casal e momentos temporais, e a um aumento da sintomatologia depressiva materna da gravidez para o pósparto. Por sua vez, um fraco suporte do companheiro associa-se a uma maior sintomatologia ansiosa paterna no período pré e pós-natal. Um efeito combinado do suporte conjugal e do estilo de vinculação nas mudanças da sintomatologia ansiosa ao longo do tempo foi também observado, de forma diferencial, em cada um dos elementos do casal.
O estudo 2 foca-se num programa de intervenção psicossocial destinado a indivíduos toxicodependentes, integrados numa comunidade terapêutica, que tinha como objetivo explorar as suas narrativas relativamente aos vínculos afetivos estabelecidos na infância e na idade adulta e sua relação com a conduta aditiva, bem como desenvolver competências socioemocionais, nomeadamente a confiança, a procura de proximidade e pedido de ajuda e empatia. Após a implementação do programa, indicadores de natureza
qualitativa e quantitativa evidenciaram resultados positivos desta intervenção ao nível da redução da ansiedade nas relações interpessoais e da gravidade da dependência química.
Adicionalmente, os participantes percecionaram uma maior proximidade relacional e satisfação com o suporte social entre os elementos do grupo terapêutico ao longo doprocesso de intervenção, considerando que as sessões propostas os ajudaram a promover uma maior confiança, intimidade e coesão grupal.
As evidências apresentadas reforçam a centralidade da organização do sistema de vinculação no desenvolvimento humano, não devendo esta ser descurada no planeamento
de ações psicológicas destinadas à promoção da saúde mental dos indivíduos ao longo de todo o ciclo vital.
“From the cradle to the grave”: o lugar da vinculação no envelhecimento
Carla Faria
Resumo
Tal como Bowlby (1980) postulou, os comportamentos de vinculação e os laços que criam estão presentes e ativos ao longo do ciclo de vida e a qualidade da vinculação tem uma influência profunda nas trajetórias desenvolvimentais, em particular na capacidade individual para responder às tarefas desenvolvimentais. Ao longo do ciclo de vida a pessoa vai construindo relações íntimas que desempenham um papel nuclear na medida em que se constituem como fonte de segurança face às ameaças e dificuldades e, ao mesmo tempo, garantem o suporte à exploração e aprendizagem. Isto é, a teoria e investigação apontam para a importância única das relações de vinculação.
Existe evidência clara de que os humanos têm uma necessidade fundamental de pertença, que é preenchida apenas por relações que envolvam quer o contacto regular quer um forte sentido de vinculação, intimidade, e compromisso. Além disso, as relações de vinculação desempenham um papel único na satisfação de necessidades de proteção, conforto e segurança e em proporcionar uma base segura que permite aos indivíduos envolverem-se em atividades independentes (eg, trabalho, lazer) com confiança. Neste contexto, alguns teóricos e investigadores começaram a reconhecer a relevância única da teoria da vinculação na velhice atendendo ao aumento do potencial de separação, perda e vulnerabilidade associada ao envelhecimento. Chegando mesmo alguns teóricos a defender que a vinculação e a prestação de cuidados se podem tornar assuntos desenvolvimentais centrais na velhice. Wright e colaboradores (2005) salientaram que a doença crónica, habitual na velhice, está tipicamente relacionada com uma redução da capacidade em atividades autodirigidas. Esta perda de autoeficácia é frequentemente acompanhada por um sentimento crescente de medo, vulnerabilidade e insegurança no idoso. Globalmente, a investigação existente neste domínio tem-se organizado em torno de (1) procura e prestação de cuidados na velhice; (2) resposta à perda e luto das pessoas mais velhas; e (3) capacidade de adaptação e bem-estar na velhice. Assim, na presente comunicação pretende-se (1) situar a investigação sobre a vinculação na velhice, evidenciando a relevância da qualidade da vinculação para o processo de envelhecimento, nomeadamente a capacidade das pessoas mais velhas lidarem e se adaptarem às exigências desenvolvimentais deste período da vida; (2) analisar os constrangimentos e desafios metodológicos que se colocam à investigação neste domínio; e (3) discutir as implicações das evidências científicas no domínio para a prática profissional.
Palavras-chave: vinculação; envelhecimento humano; (in)adaptação; cuidados; bemestar
Vinculação, Representação Mental dos Cuidados e Ansiedade Filial em filhos de meia-idade
Diana Morais
O envelhecimento dos progenitores coloca exigências e mudanças complexas na relação filial (relação entre filhos e progenitores). A crescente vulnerabilidade e os declínios dos progenitores levam a que os filhos se apercebam de que os progenitores também têm necessidades individuais e, como tal, não podem funcionar plenamente como fontes de segurança e de protecção, como até aí. Simultaneamente, a evidência das perdas e da incapacidade impõem a necessidade de cuidados, os quais tendem a ser assumidos, sobretudo pelos filhos, assistindo-se assim, a uma progressiva mudança no volume das trocas de apoio entre progenitores e filhos, sendo que, passa a haver cada vez mais apoio dos filhos para os progenitores.
Neste âmbito, embora a investigação sobre as relações filiais se centre mais em variáveis de natureza sócio-contextual e nas consequências dos cuidados filiais, a forma como os filhos se adaptam a estas transições é influenciada por diversos factores também de natureza interna e relacional. Entre estes, a Vinculação, a Representação Mental dos Cuidados e a Ansiedade Filial podem constituir recursos/constrangimentos relevantes para lidar com o envelhecimento dos progenitores e com a consequente necessidade de cuidados. Deste modo, a presente comunicação tem como objectivo explorar o papel da Vinculação e da Representação Mental dos Cuidados na Ansiedade Filial.
Participaram neste estudo 304 filhos com idades compreendidas entre os 35 e os 64 anos, tendo pelo menos um dos progenitores vivos com 65 anos ou mais, não institucionalizado. A Vinculação foi avaliada através da Escala de Vinculação do Adulto (Collins & Read, 1990, versão portuguesa de Canavarro, Dias & Lima, 2006), a Representação Mental dos Cuidados através da Escala de Representações Mentais de Prestação de Cuidados (Reizer & Mikulincer, 2007, versão portuguesa de Fonseca,
Nazaré, & Canavarro, 2013) e a Ansiedade Filial através da Escala de Ansiedade Filial (Cicirelli, 1988, versão portuguesa de Faria, Toipa, Lamela, Bastos & Cicirelli, 2013).
Os resultados sugerem que a Vinculação e a Representação Mental dos Cuidados são relevantes para explicar a variabilidade da Ansiedade Filial, sendo que a vinculação
segura e representações mais positivas da prestação de cuidados estão associadas a menos Ansiedade Filial.
O Papel das Orientações de Vinculação do Adulto na Parentalidade Mindful: A Autocompaixão e as Representações Mentais de Prestação de Cuidados como Factores Mediadores
Helena Moreira & Maria Cristina Canavarro
Resumo
Introdução: a parentalidade mindful consiste numa abordagem parental caracterizada por uma atitude de compaixão pela criança e de aceitação do funcionamento parental, e pela autorregulação, consciência emocional da criança, e atenção plena nas interações pais-filhos. Embora a teoria da vinculação preconize que uma vinculação segura é um pré-requisito essencial para uma prestação de cuidados adequada, não existem estudos que tenham analisado o papel das orientações de vinculação na adoção desta forma de parentalidade, nem os mecanismos que poderão estar subjacentes a esta relação. Assim, a presente comunicação tem como objetivo explorar o papel mediador da autocompaixão e das representações mentais de prestação de cuidados enquanto factores mediadores da ligação entre as orientações de vinculação (ansiedade e evitamento) e a parentalidade mindful.
Metodologia: a amostra é constituída por 290 mães (Estudo 1) e 439 mães e pais (Estudo 2) de crianças e adolescentes com idades compreendidas entre os 8 e os 18 anos, recolhidas em contexto escolar. Foram avaliadas as orientações de vinculação (Escala de Relações Próximas – Estruturas Relacionais), a parentalidade mindful (Escala de Mindfulness Interpessoal na Parentalidade), a autocompaixão (Escala de Autocompaixão Breve), e as representações mentais de prestação de cuidados (Escala de Representações Mentais de Prestação de Cuidados).
Resultados: os resultados evidenciaram que o evitamento tem um efeito direto na parentalidade mindful e um efeito indireto através de duas dimensões das representações mentais de prestação de cuidados (capacidade de prestar ajuda ao outro e percepção do outro como merecedor de ajuda). A relação entre a ansiedade e a parentalidade mindful não foi direta, mas apenas mediada pela autocompaixão e por duas dimensões das representações mentais de prestação de cuidados (capacidade de reconhecer as necessidades dos outros e motivos egoístas para prestar ajuda).
Conclusão/Discussão: os resultados sugerem que as diferenças individuais nas orientações de vinculação desempenham um papel fundamental na forma como os paisexercem a parentalidade e, especificamente, na sua capacidade para exercer uma parentalidade mindful. Uma maior autocompaixão e representações mais positivas de prestação de cuidados parecem ser importantes mecanismos explicativos desta relação e deverão ser promovidos em contexto terapêutico.
Aliança terapêutica como co-construção de um processo vinculativo
Eugénia Ribeiro
Resumo
A aliança terapêutica tem sido entendida como o esforço conjunto da díade terapêutica para trabalharem em direção à mudança do cliente. Este esforço colaborativo entre o terapeuta e o cliente exige confiança e compreensão empática mútua (Hatcher & Barends, 2006; Ribeiro et al. 2013). A investigação em psicoterapia tem mostrado uma relação positiva e significativa entre a qualidade da aliança terapêutica e estilo de vinculação segura, quer quando estas variáveis são avaliadas na perspectiva dos terapeutas quer dos clientes. A experiência de conforto e confiança nas relações próximas, o medo da rejeição e do envolvimento com a intimidade e a preferência pela autossuficiência ou distância interpessoal são dimensões que influenciam o modo como terapeuta e cliente confiam um no outro e contribuem mutuamente para o compromisso com os objectivos e tarefas terapêuticas (Diener, Hilsenroth & Weinberger, 2009). Nesta comunicação, será apresentada uma síntese dos principais resultados da investigação nesta área bem como os resultados de um estudo piloto desenvolvido pela nossa equipa na Universidade do Minho. Participaram neste estudo 75 clientes adultos do Serviço de Psicologia da APSI Universidade do Minho. A qualidade da aliança terapêutica foi avaliada com o Inventário de Aliança Terapêutica no final da 4ª sessão e o estilo de vinculação foi avaliado com o EVA no momento pré-terapia. Os resultados são consistentes com a literatura e mostram que a confiança-segurança está positivamente relacionada com a qualidade da aliança terapêutica, na fase inicial da terapia. Os resultados serão discutidos à luz da teoria e revisão prévia da literatura, considerando as implicações para a pratica clínica.
Modelo Touchpoints – construindo “o nós”, fortalecendo os laços
Ana Teresa Brito
Resumo
O Modelo Touchpoints oferece uma renovada abordagem para a intervenção com crianças e suas famílias, visando potenciar a competência parental na construção da relação pais-filhos e criar uma aliança entre os pais e os profissionais que fazem parte do seu sistema. A Fundação Brazelton Gomes-Pedro (FBGP), tendo por base este Modelo, assume como sua missão “Fomentar, desenvolver e difundir um novo paradigma de intervenção clínica inspirado num Modelo Relacional, no pressuposto de que favorecer o vínculo do bebé à sua Família tem repercussões significativas ao longo do Desenvolvimento.” Neste contexto, propõe uma formação interdisciplinar e, tanto quanto possível, transdisciplinar: centrada na pessoa, é sobre a pessoa e a partir dela, que procura fazer convergir e dialogar, de forma reflexiva e crítica, os diferentes domínios do saber.
Desafia-nos, assim, a uma verdadeira mudança de paradigma potenciadora de uma nova forma de sentir, pensar, fazer e dizer, propondo um caminho para a construção de uma linguagem comum entre profissionais, assente em princípios, pressupostos e estratégias de intervenção partilhadas. Nesta comunicação, sublinha-se como a prática reflexiva, que a formação propõe e desencadeia, potencia uma abordagem interventiva com base nos processos vinculativos - construindo “o nós”, fortalecendo os laços.
Intervenção Parental na Infância baseada na Teoria da Vinculação
Mariana Negrão
Resumo
Promover a parentalidade positiva, com base na teoria da vinculação: O VIPP-SD A parentalidade é tida por vários autores como a tarefa mais desafiante da idade adulta.
Sendo multideterminada, a qualidade da parentalidade está dependente tanto de características do próprio Pai/Mãe, quanto da Criança ou do Contexto onde esta relação se desenvolve, implicando por isso continua adaptação e flexibilidade aos determinantes em mutação.
Partindo do reconhecimento da exigência da tarefa parental, bem como do impacto da qualidade da parentalidade no desenvolvimento infantil, a investigação tem-se preocupado com a avaliação de eficácia de programas de intervenção parental.
Neste âmbito apresenta-se o Videofeedback Intervention to Promote Positive Parenting and Sensitive Discipline (VIPP-SD, Juffer, Bakermans-Kranenburg, & Van IJzendoorn, 2008). O VIPP-SD é um programa de intervenção parental baseado na teoria da vinculação, perspetiva inescapável na intervenção na parentalidade. O VIPP-SD tem-se demonstrado eficaz na promoção da parentalidade positiva e do desenvolvimento infantil em diferentes contextos e populações. Nesta comunicação será brevemente apresentado o programa, os principais resultados de eficácia do mesmo – com particular enfoque no estudo conduzido em Portugal – e refletidas características de particular adequação desta abordagem.
Regulamento para Comunicações Livres
(Comunicação oral ou Poster)
XIX Jornadas de Psicologia do Instituto Universitário de Ciências da Saúde:
“(Os) Nós e os Laços: Percursos Vinculativos”
24 e 25 de maio de 2018
Envio e apreciação
As propostas para comunicações orais devem ser enviadas para Núcleo de Psicologia Clínica AE IUCS (aeiscsn.npc@gmail.com) em formulário próprio (clique aqui) até dia 14 de maio em suporte informático, MS Word, respeitando as normas indicadas. Todas as propostas serão submetidas à apreciação da Comissão Científica das Jornadas, sendo a resposta divulgada dia 17 de maio. Só serão aceites comunicações originais.
Apresentação
As comunicações deverão ser apresentadas por um dos autores no horário estipulado para as “Comunicações Livres”. Estão previstos 15 minutos para cada comunicação, seguidos de debate. A sala dispõe de computador e data show.
As propostas para posters devem ser enviadas para Núcleo de Psicologia Clínica AE IUCS (aeiscsn.npc@gmail.com) em formulário próprio até dia 14 de maio, sendo submetido a apreciação pela Comissão Científica das Jornadas. A resposta da apreciação será divulgada dia 17 de maio.
Sendo aceite, o poster (medidas máximas 90 por 120cm) terá que ser entregue a um dos elementos do Núcleo de Psicologia, no edifício da Alfândega do Porto, no dia 24 de maio entre as 14 e as 16 horas. Os posters estarão em exposição até ao fim das Jornadas sendo alvo de apreciação, no dia 25 de maio, por um júri destacado para o efeito.
Organização
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